Segundo
S. João Maria Vianney, Madre Maria Luisa de Jesus,
Pe.
Paulo H. O'Sulivan e outros autores
O descobrimento das Relíquias
Foi em 24 de
maio de 1802 que os escavadores encontraram nas Catacumbas
De Santa
Priscila uma sepultura que nunca tinha sido violada. Tudo se
Encontrava
exatamente como estivera há muitos séculos atrás. Viam-se três
Placas com a
seguinte inscrição: PAX TE CUM FI LUMENA (a paz seja contigo,
(Filomena).
Cinco emblemas
em pintura adornavam essas placas: o primeiro era uma
Âncora que, pela
sua semelhança com a cruz, tornara-se um símbolo de esperança
Para os
primeiros cristãos. Era também, nesse tempo, emblema de
Martírio, porque
prendiam âncoras ao pescoço de alguns dos cristãos confessos
Quando os atiravam
ao mar. Possivelmente Santa Filomena foi lançada
No Rio Tibre.
O segundo
emblema encontrado eram duas setas, uma apontada para cima,
Outra voltada
para baixo. Isto deveria indicar, também, a espécie de morte
Sofrida pela
Mártir, porque alguns cristãos eram executados com setas.
O terceiro era
uma lança, que deveria ter semelhante significado.
O quarto era uma
palma, emblema de triunfo da Mártir.
O quinto e
último era um lírio, símbolo da pureza.
Ao abrir-se, o
túmulo, encontraram-se relíquias de uma Virgem Mártir, com
Um vaso do seu
sangue ressequido e resguardado em âmbulas, conforme era
Costume nas
sepulturas de mártires cristãos.
Essas relíquias
foram minuciosamente examinadas por entidades competentes,
Entre os quais
doutores, cirurgiões e teólogos. Reconheceu-se que o
Crânio tinha
sido fraturado. Os ossos aparentavam ser de uma menina e os
Doutores
presumiram que ela deveria ter doze a treze anos de idade.
Contudo, aquela
descoberta era o início de mais um misterioso desígnio de
Deus.
Iniciava-se ali a história de uma das mais belas devoções de nossos
Tempos e,
sobretudo, profícua em extraordinárias graças, milagres extraordinários
e conversões
espetaculares, a partir da trasladação das relíquias
Para Mugnano,
Itália, em 1805, pelo bom padre D. Francisco di Lucia.
Durante o
trajeto das Relíquias até a exposição para veneração na pequena
paróquia de Pe.
Francisco, curas e eventos sobrenaturais impressionantes
aconteceram,
tais como cegos que voltaram a enxergar, aleijados que voltaram
a andar, agonizantes
que recobraram a saúde, além de outros fenômenos
inexplicáveis.
Dir-se-ia que a
Providência ocultara essa devoção para os dias em que os
bens mais
preciosos da alma mais estivessem ameaçados pelas forças do
mal, porque
Santa Filomena ressurge em nossa época como admirável e
providencial
exemplo de Humildade, Fé e Pureza virginal.
É digno de nota
lembrar que S. João Maria Vianney, o Santo Cura D’Ars, modelo
de sacerdote
declarado recentemente pelo Santo Padre Bento XVI,
consagrou-se por
voto especial a Santa Filomena e logo se tornou evidente
uma intimidade
maravilhosa entre o bom cura e aquela a quem considerava
a sua Celeste
Padroeira. A Santa aparecia-lhe, conversava com ele, e tudo lhe
Concedia
satisfazendo as suas preces. Ele tratava-a pelos mais carinhosos
Nomes; e ela
comprazia-se em lhe prodigalizar as mais assombrosas graças.
A revelação sobrenatural da vida de Santa Filomena
No entanto, além
de seu nome, que significa “amiga ou filha da luz”, pouco
se sabia sobre a
história pessoal de Santa Filomena anteriormente ao descobrimento
de suas
relíquias nas catacumbas.
Alguns de seus
devotos mais fervorosos, animados pela terna solicitude com
que a sua
querida Santa atendia-lhes as preces em Mugnano, ardentemente
lhe suplicaram
que os elucidasse sobre quem ela era e o que sofrera por
Jesus Cristo.
Estas ansiosas preces foram atendidas, e a Santa revelou a três
pessoas
diferentes, que viviam afastadas e absolutamente desconhecidas
umas das outras,
a história da sua vida e os pormenores do seu martírio.
Estas
revelações, de caráter privado ou feitas a particulares, eram, todavia,
surpreendentes,
e não apresentavam pequena soma de probabilidades humanas.
Serem idênticas
e terem sido feitas a três pessoas, entre si desconhecidas,
é coincidência
extraordinária que lhes dá grande valor.
Dentre essas
três revelações, citamos a de Madre Maria Luisa de Jesus, Superiora
Geral da
Congregação das Dores de Maria, que morreu em odor de
santidade no ano
de 1875.
História da vida de Santa Filomena
Assim revelou a
própria Santinha à Madre Maria Luisa:
— "Minha
querida irmã, eu era filha do rei de um pequeno estado grego.
Minha mãe também
era de sangue real. Como não tinham descendência,
meus pais
ofereciam constantemente sacrifícios e preces aos seus falsos
deuses para
alcançarem a graça de um filho. Estava nesse tempo com a nossa
família um
doutor romano, chamado Públio, agora santo da Corte Celeste,
apesar de não
ter sido mártir. Impressionado com a cegueira espiritual dos
seus soberanos e
comovido com a mágoa que eles manifestavam, foi inspirado
pelo Espírito Santo a falar-lhes da
nossa fé e afirmar-lhes que as suas
orações seriam
ouvidas se eles abraçassem a Religião Cristã.
O seu eloqüente
fervor penetrou o coração de meus pais e ao mesmo tempo
o espírito de
ambos foi iluminado pela graça divina. Depois de madura deliberação
receberam
finalmente o Santo Sacramento do Batismo.
Nasci no
princípio do ano seguinte; a 10 de janeiro, e chamaram-me Lumena
ou Luz, porque
nascera sob a luz da fé a que meus pais votavam agora ardente
devoção.
Deram-me ao
batismo o nome de Filomena, isto é, amiga da Luz que me
iluminou a alma
pela graça desse Sacramento.
A Divina
Providência permitiu que o epitáfio do meu sarcófago fosse exarado
neste verdadeiro
sentido, apesar dos intérpretes não terem percebido que
esse era o
pensamento exato no espírito daqueles que primeiramente o escreveram.
Meus pais
dedicavam-me a maior afeição possível, e meu pai não podia conformar-se
com a idéia de me ter fora das suas vistas.
Por esse motivo,
quando eu contava treze anos, acompanhei-os a Roma. Esta
viagem foi
efetuada em conseqüência da declaração de guerra que injustamente
nos foi feita
pelo soberbo e poderoso Imperador Romano.
Reconhecendo a
sua fraqueza, meu pobre pai partiu para Roma, na esperança
de obter a paz
com o Imperador. Minha mãe e eu acompanhámo-lo e
estivemos
presentes na audiência que o tirano lhe concedeu.
Que
extraordinário destino, o que me esperava! Enquanto meu pai calorosamente
advogava a sua
causa, tentando defender-se, o Imperador, lançando-me
furtivos olhares cintilantes, respondeu:
— Não te
assustes mais; podes estar absolutamente descansado que não há
motivo para
ansiedade. Em vez de te atacar, porei as forças do Império ao
teu dispor, com
a condição de que me darás em casamento a mão da tua
encantadora
filha Filomena.
Meus pais
concordaram plenamente com a proposta e, ao regressarmos à
nossa pousada,
tentaram convencer-me de que eu, na verdade, me deveria
considerar
felicíssima como Imperatriz de Roma.
Recusei a
proposta sem um momento de hesitação e declarei-lhes que já me
havia tornado
Esposa de Jesus Cristo, por um voto de castidade, quando
tinha doze anos.
Meu pai, então,
por todos os meios diligenciou provar-me que uma criança
da minha idade
não podia dispor de si própria como lhe aprouvesse; e invocou
toda a sua
autoridade para me obrigar a obedecer. Mas o meu Divino
Esposo deu-me a
necessária coragem para permanecer firme na minha resolução.
Quando o
Imperador foi informado da minha resposta, considerou-a mero
pretexto para
lhe sermos desleais. E disse a meu pai:
— Tragam-me aqui
a Princesa Filomena, e eu verei se posso convencê-la ou
não.
Meu pai foi-me
buscar, mas vendo que a minha resolução era inabalável, ele
e minha mãe, ambos
se lançaram aos meu pés suplicando-me que mudasse
de propósito.
— Filha! —
exclamavam eles — tem dó de teus pais, tem piedade do nosso
reino!
Eu respondi que
os meus pais e o meu reino eram o céu. Deus e a minha
Virgindade
estavam, para mim, acima de tudo mais.
No entanto, não
pudemos deixar de obedecer ao Imperador, apresentando nos
No palácio. Ele,
primeiro, usou de toda a espécie de promessas e de
lisonjas para me
induzir a aceitar o casamento; mas tudo foi em vão. Depois,
recorreu a
ameaças, mas sem melhor resultado. Por fim, num acesso de
desespero,
impelido pelo demônio da luxúria, ordenou que eu fosse atirada
para um cárcere,
nos subterrâneos do palácio imperial. Aí, amarraram-me os
pés e as mãos e
carregaram-me de cadeias, na esperança de assim me constrangerem
a casar com
aquele homem em cuja alma só imperava o espírito
das trevas.
Todos os dias
ele vinha renovar os seus galanteios. Aliviavam-me de ferros,
de modo que eu
podia tomar um pouco de pão e água; mas o Imperador, ao
ver que os seus
esforços eram inúteis, mandava que se me repetissem as torturas.
Durante todo
este tempo o meu Divino Esposo me amparou. Constantemente
eu me
encomendava a Jesus e à sua Mãe Bendita.
Passavam-se
estas cenas havia trinta e sete dias, quando a Rainha do Céu me
apareceu,
aureolada por uma luz deslumbrante e sustendo nos braços o seu
Divino Filho. —
"Minha filha — disse-me Ela — continuarás ainda mais três
dias neste
cárcere, e depois, ao quadragésimo dia do teu cativeiro, abandonarás
este lugar de
tormento".
Ao ouvir estas
palavras animadoras, o meu coração pulsou de alegria.
Mas a Bendita
Mãe de Deus continuou: — "Quando o abandonares sofrerás
ainda cruéis
torturas por amor a Meu Filho".
Esta nova
revelação deixou-me apavorada, e cheguei a experimentar a sensação
de que já me
assaltavam as terríveis agonias da morte.
— "Coragem,
querida filha! — acrescentou a Rainha do Céu — querida acima
de todas porque
tens o meu nome e o nome de Meu Filho. Tu chamas-te
Lumena ou Luz.
Meu Filho, teu Esposo, chama-se Luz, Estrela, Sol. E eu também,
não me chamo
igualmente, Aurora, Estrela, Lua, Sol? Eu serei o teu
amparo. Agora é
o período transitório da fraqueza e da humilhação humana;
porém, quando
chegar a hora do julgamento, então receberás a graça da
divina força.
Além do teu Anjo da Guarda, terás a teu lado o Arcanjo Gabriel,
cujo nome
significa "A força do Senhor". Quando
eu estava na Terra, era ele
o meu protetor:
eu agora o mandarei àquela que é a minha mais querida
filha".
Estas palavras tranqüilizadoras
reanimaram a minha coragem, e a visão desapareceu,
deixando na
masmorra perfume celeste.
O Imperador,
perdendo a esperança de me fazer ceder aos seus desejos,
recorreu às
maiores torturas, com o fim de me aterrorizar e assim conseguir
que eu quebrasse
o meu voto feito a Deus. Ordenou que eu fosse amarrada
a uma coluna e
cruelmente açoitada, acompanhando-se ainda o bárbaro
suplício de
horríveis blasfêmias.
Dizia o tirano:
— "Visto que é tão persistente em preferir um malfeitor, condenado
à morte pelos
seus próprios compatriotas, a um imperador como eu,
sofra ela o
castigo merecido".
Vendo que,
apesar de eu estar toda numa chaga, a minha resolução continuava
inalterável,
mandou que tornassem a levar-me para a prisão, onde deveria
agonizar e morrer.
Estava eu
lançando o meu pensamento para além da morte, esperando descansar
no seio do meu
Esposo, quando me apareceram dois anjos resplandecentes
e derramaram um
bálsamo celestial sobre as minhas feridas. Estava
curada.
Na manhã
seguinte o Imperador ficou assombrado ao saber a notícia. Vendo-me
ainda mais forte
e mais bela que nunca esforçou-se por me convencer de
que eu recebera
aquele benefício de Júpiter, que para mim destinava a coroa
imperial.
O Espírito Santo
inspirou-me e refutei aquele sofisma, ao mesmo tempo que
resisti às
blandícias do Imperador.
Louco de raiva,
deu ordem para que me prendessem ao pescoço uma âncora
de ferro e me
lançassem ao Tibre. Mas Jesus, para mostrar o seu poder e
confundir os
falsos deuses, mais uma vez mandou em meu auxílio os seus
dois anjos que
cortaram a corda; e a âncora caiu no fundo do rio, onde ficou
encravada no
lodo.
Trouxeram-me
então para a margem, sem que uma gota de água tivesse
tocado nas
minhas roupas.
Este milagre
converteu um grande número dos que o presenciaram.
Diocleciano,
mais obstinadamente cego que Faraó, declarou então que eu
devia ser
feiticeira e ordenou que me trespassassem de setas. Ao ter notícia
deste novo
milagre, o Imperador ficou de tal maneira enfurecido, que ordenou
a repetição da
tortura até que a morte sobreviesse enfim; mas as
setas
recusaram-se a partir dos arcos. Diocleciano insistia em que semelhante
fato era
determinado por um poder mágico e, na esperança de que esse
encantamento se
aniquilasse diante do fogo, deu ordem para que as setas
fossem aquecidas
numa fornalha até ficarem rubras. Mas este expediente foi
de nulo efeito.
O meu Divino Esposo livrou-me desse tormento voltando as
setas contra os
besteiros, seis dos quais foram mortos.
Este último
milagre deu lugar a outras conversões e o povo começou a manifestar
grave
descontentamento e a mostrar reverência pela nossa bendita fé.
Receando mais
sérias conseqüências, o tirano ordenou então que eu fosse
decapitada.
A minha alma
gloriosa e triunfante, ascendeu ao Céu, onde recebi a coroa da
virgindade, que
mereci por tão grande número de vitórias. Foi às três horas
da tarde, de 10
de Agosto, numa sexta-feira.
Eis aqui as
razões por que Nosso Senhor quis que o meu corpo fosse reconduzido
para Mugnano em
10 de Agosto e por que Ele operou tantos milagres
nessa
ocasião".
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