14 de dezembro - Dia de São João da Cruz
SÃO JOÃO DA CRUZ
1542-1591
São
João da Cruz (Fontiveros, 24 de Junho de 1542 - Úbeda, 14 de Dezembro
de 1591) foi um frade carmelita espanhol, famoso por suas poesias
místicas.
Biografia
São
João da Cruz nasceu em 1542, provavelmente no dia 24 de Junho, em
Fontiveros, província da cidade de Ávila, em Espanha. Os seus pais
chamavam-se Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. Gonzalo pertencia a uma
família de posses da cidade de Toledo.
Por ter-se casado com uma jovem de classe “inferior”, foi deserdado por seus pais e tornou-se tecelão de seda.
Em
1548, a família muda-se para Arévalo. Em 1551 transfere-se para Medina
del Campo, onde o futuro reformador do Carmelo estuda numa escola
destinada a crianças pobres.
Por suas aptidões, torna-se empregado do diretor do Hospital de Medina del Campo.
Entre 1559 a 1563 estuda Humanidades com os Jesuítas.
Ingressou
na Ordem do Carmo aos vinte e um anos de idade, em 1563, quando recebe o
nome de Frei João de São Matias, em Medina del Campo.
Pensa
em tornar-se irmão leigo, mas seus superiores não o permitiram. Entre
1564 e 1568 faz sua profissão religiosa e estuda em Salamanca.
Tendo concluído com êxito seus estudos teológicos, em 1567 ordena-se sacerdote e celebra sua Primeira Missa.
No entanto, ficou muito desiludido pelo relaxamento da vida monástica em que viviam os Conventos Carmelitas.
Decepcionado,
tenta passar para a Ordem dos Cartuxos, ordem muito austera, na qual
poderia viver a severidade de vida religiosa à que se sentia chamado.
Em
Setembro de 1567 encontra-se com Santa Teresa de Ávila, que lhe fala
sobre o projeto de estender a Reforma da Ordem Carmelita também aos
padres, surgindo posteriormente os carmelitas descalços.
O jovem de apenas vinte e cinco anos de idade aceitou o desafio.
Trocou o nome para João da Cruz.
No dia 28 de Novembro de 1568, juntamente com Frei Antônio de Jesús Heredia, inicia a Reforma.
O desejo de voltar à mística religiosidade do deserto custou ao santo fundador maus tratos físicos e difamações.
Em 1577 foi preso por oito meses no cárcere de Toledo.
Nessas
trevas exteriores acendeu-se-lhe a chama de sua poesia espiritual.
"Padecer e depois morrer" era o lema do autor da "Noite Escura da alma",
da "Subida do monte Carmelo", do "Cântico Espiritual" e da "Chama de
amor viva".
Pensamentos
Que
mais queres, ó alma, e que mais buscas fora de ti, se encontras em teu
próprio ser a riqueza, a satisfação, a fartura e o reino, que é teu
Amado a quem procuras e desejas?
Em teu recolhimento interior, regozija-te com ele, pois ele está muito perto de ti.
A
alma que verdadeiramente ama a Deus não deixa de fazer o que pode para
achar o Filho de Deus, seu Amado. Mesmo depois de haver empregado todos
os esforços, não se contenta e julga não ter feito nada.
Ó
Senhor, Deus meu! Quem te buscará com amor tão puro e singelo que deixe
de te encontrar, conforme o desejo de sua vontade, se és tu o primeiro a
mostrar-te e a sair ao encontro daqueles que te desejam?
A
alma que busca a Deus e permanece em seus desejos e comodismo, busca-o
de noite, e, portanto, não o encontrará. Mas quem o busca através das
obras e exercícios da virtude, deixando de lado seus gostos e prazeres,
certamente o encontrará, pois o busca de dia.
Para chegares a saborear tudo, não queiras ter gosto em coisa alguma.
Para chegares a ser tudo, não queiras ser coisa alguma.
Para chegares a saber tudo, não queiras saber coisa alguma.
Para chegares ao que não gostas, hás de ir por onde não gostas.
Para chegares ao que não sabes, hás de ir por onde não sabes.
Para vires ao que não possuis, hás de ir por onde não possuis.
Para chegares ao que não és, hás de ir por onde não és.
Modo de não impedir o tudo:
Quando reparas em alguma coisa, deixas de arrojar-te ao tudo.
Porque para vir de todo ao tudo, hás de negar-te de todo em tudo.
E quando vieres a tudo ter, hás de tê-lo sem nada querer.
Porque se queres ter alguma coisa em tudo, não tens puramente em Deus teu tesouro.
Em uma Noite escura, com ânsias em amores inflamada, ó ditosa ventura!, saí sem ser notada. estando minha casa sossegada.
A ocultas, e segura, pela secreta escada, disfarçada, ó ditosa ventura!, a ocultas, embuçada, estando minha casa sossegada.
Em
uma Noite ditosa, tão em segredo que ninguém me via, nem eu nenhuma
cousa, sem outra luz e guia senão aquela que em meu seio ardia. Só ela
me guiava, mais certa do que a luz do meio-dia, adonde me esperava quem
eu mui bem sabia, em parte onde ninguém aparecia.
Ó
Noite que guiaste!, ó Noite amável mais do que a alvorada!, ó Noite que
juntaste Amado com amada, amada nesse Amado transformada!
No
meu peito florido, que inteiro para ele se guardava, quedou adormecido
do prazer que eu lhe dava, e a brisa no alto cedro suspirava.
Da
torre a brisa amena, quando eu a seus cabelos revolvia, com fina mão
serena a meu colo feria, e todos meus sentidos suspendia.
Quedei-me
e me olvidei, e o rosto reclinei sobre o do Amado: tudo cessou, me dei,
deixando meu cuidado por entre as açucenas olvidado.
Cronologia
1542: Nasce en Fontiveros (Ávila), talvez no dia 24 de junho, filho do casal Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez.
1548: Vai residir em Arévalo.
1551: Muda com a família para Medina del Campo.
1559-63: Cursa humanidades com os Jesuítas de Medina.
1563: Veste o hábito carmelitano, recebendo o nome de Fr. Juan de San Matias, em Medina del Campo.
1564-68: Professa os votos e estuda em Salamanca na Universidade e no Colégio de San Andrés.
1567: Ordena-se sacerdote e celebra sua Primeira Missa em Medina.
1567:
Em setembro se encontra com a Santa Madre Teresa, que lhe fala sobre o
projeto da Reforma da Ordem, também entre os religiosos.
1568.28.11: Em Duruelo começa a Reforma com o Pe. Antonio de Jesús Heredia.
1568-71:Mestre dos noviços em Duruelo, Mancera e Pastrana.
1569: Abre-se o convento de Pastrana e o Santo vai para lá, a fim de suavizar a excessiva dureza de sua vida.
1570: A comunidade de Duruelo se transfere para Mancera
1571: Abril. Nomeado Reitor do Colégio de Alcalá.
1572-77: Confessor e Vigário na Encarnação, em Ávila.
1577: Na noite de 3 para 4 de dezembro é levado para o cárcere de Toledo, onde ficará até 15 de agosto de 1578.
Outubro. Prior de Calvano (Jaén).
1579. Reitor do colégio de Baeza.
1581: Março. No Capítulo de Alcalá é nomeado terceiro Definidor, Provincial e Prior de Granada.
1583: Maio. Reeleito Prior de Granada.
1585: Maio. Em Lisboa foi eleito segundo Definidor e em outubro o nomeiam Vigário Provincial de Andaluzia.
1586: Faz a fundação dos padres em Córdoba, Manchuela e Caravaca.
1587: No Capítulo de Valladolid o nomeiam pela terceira vez Prior de Granada.
1588:
Junho. No Primeiro Capítulo Geral celebrado em Madrid é nomeado
Primeiro Definidor Geral, Prior de Segóvia e Terceiro Conselheiro de
consulta.
1591: Junho. Assiste ao Capítulo Geral em Madri e terminam todos os seus cargos.
1591.14.12: Morre em Ubeda (Jaén), à meia-noite, aos 49 anos.
1593: Maio. Seu corpo é trasladado para Segóvia.
1618: Primeira edição de suas obras em Alcalá.
1675.25.1: Beatificado por Clemente X.
1726.27.12: Canonizado por Bento XIII.
1926.24.8: Declarado Doutor Místico da Igreja por Pio Xl.
1952.21.3: Proclamado patrono dos poetas espanhóis.
Obras
I.-OBRAS MAIORES:
1.
Subida ao Monte Carmelo: É sua obra fundamental. É quase uma única obra
com a Noite Escura, começada no Calvário de Jaén, em 1578, e depois
continuada em Baeza e Granada.
2. Noite Escura da alma:
A) Livro primeiro, Noite passiva do sentido; consta de 14 cap.
B) Libro segundo: Noite passiva do espírito, consta de 25 cap.
3.
Cântico Espiritual. É a mais bela obra do santo. 30 estrofes foram
escritas no cárcere. Trata da união com Deus. Consta de 40 estrofes e se
divide em três partes.
4.
Chama Viva de Amor. Escrita em Granada entre 1585 e 1587, em quinze
dias. É o livro mais ardente de todos. Consta de quatro canções com seis
versos cada uma.
1. Avisos: Conselhos que dava às monjas de Beas, quando era seu Confessor.
2. Cautelas: Escreveu-as para as mesmas monjas.
3.Quatro conselhos a um religioso.
4. Cartas: Conservam-se apenas 32 cartas. Devido ao processo que abriram contra ele, muitas cartas foram destruídas.
5. Poesias: As principais são as que aparecem nos grandes tratados: Noite Escura, Cântico Espiritual e Chama.
É sem dúvida o que melhor se escreveu em espanhol.
6. DITOS DE LUZ E AMOR: Frases de direção para suas carmelitas, que o Santo escrevia ocasionalmente.
A
obra sanjuanista – escreveu um ilustre teresianista – se divide em duas
partes: “A ensinar os métodos para se conseguir o vazio dos sentidos e
as potências da alma mediante engenhosas purificações ativas e passivas
se ordenam os dois primeiros tratados de profunda doutrina espiritual e
forte consistência: A Subida e a Noite.
Ninguém
cantou melhor os amores divinos que o rouxinol do Carmelo. Algumas
poesias imediatamente inflamam a alma no mesmo amor em que Deus se
abrasa. Sobre seu inspirado lirismo, sobrevoa seu profundo sentido
místico.
Espiritualidade
Impossível sintetizar o maravilhoso magistério vivo e ensinado pelo Doutor Místico em tão breves linhas.
O
Doutor é a máxima figura mística do Carmelo. À vida ele une a doutrina e
a ciência. A santa vida e a ciência sagrada ou a teologia mística são
uma só realidade, como o provam suas magníficas obras. Pio XI, que lhe
deu o título de Doutor Místico da Igreja, batizou suas obras como
“Código e escola da alma fiel que se propõe a empreender uma vida mais
perfeita”.
Aqui seguem algumas observações sobre sua rica espiritualidade:
O
Santo, em seus escritos, tem sempre presente o fim da vida espiritual,
ou seja, Deus, levar as almas a Deus. E subjetivamente uni-las a ele por
amor, quer dizer, deseja levar a transformação perfeita em Deus por
amor o quanto é possível nesta vida seguindo-se a Jesus Cristo.
Em
sua admirável obra recorda a seus leitores freqüentemente o cume
daquele montanha e deseja que todos a subam. Ela é a sublime perfeição à
qual os encaminha com suas palavras e exemplos convincentes.
Seu
raciocínio demonstra que esta subida é necessária porque é um meio
indispensável para se despojar de todas as outras coisas, obstáculos
para a suprema transformação da alma em Deus.
João
da Cruz era um profundo conhecedor do coração humano. Por isso, “como o
amor de Deus e o amor da criatura são opostos, é preciso ir limpando a
alma do amor das criaturas para que a graça a invista e encha de amor
divino”.
E
tanto maior será este investimento e plenitude, quanto maior for o
vazio da criatura que acha na alma: “Olvido do que é criado, memória do
criador, atenção ao interior, e estás amando o Amado”.
Ao
ensino os métodos para conseguir este vazio nos sentidos e potências da
alma mediante engenhosas purificações ativas e passivas se ordenam os
tratados “Subida ao Monte Carmelo” e “Noite Escura da Alma”, ambos de
profunda doutrina espiritual e de forte liame lógico
No
Cântico Espiritual e na Chama Viva do Amor, entre metáforas e
comparações esplêndidas, tomadas da natureza, vai-se descortinando pouco
a pouco as excelências do amor divino nas almas desde os graus
inferiores aos mais altos do esposamento e matrimônio espiritual.
Em
síntese, pode-se dizer que a grande originalidade do magistério
espiritual sanjuanista e o segredo de sua vitalidade encontra-se
precisamente na íntima relação entre abnegação e união na vida
sobrenatural e, para usar sua terminologia clássica, entre o nada o
tudo, que se fundem um no outro.
São
João da Cruz, o Doutor Místico, influenciou grandemente a
espiritualidade cristã. Alimentou, quando vivo, através de sua direção
espiritual e depois de falecido com seus escritos imortais.
Especialmente
depois que foi declarado Doutor da Igreja Universal em 1926, suas obras
são lidas e citadas por todos os autores espirituais.
Inclusive
irmãos da Igreja Anglicana, da Comunidade de Taizé e da Igreja
Ortodoxa confessam sua predileção pelo carmelita de Fontiveros.
Literatos,
poetas, cientistas e até não-crentes ficam admirados ante a
profundidade e a beleza que brotam dos escritos sanjuanistas
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